quinta-feira, 22 de março de 2012

Memórias vivas..

Dona das Neves
Entrevista a Dona das Neves (79 anos): vendedora de acarajé há 33 anos.

Ela nos conta que quando chegou para morar na Rua Velha de Pirajá, o bairro não tinha nada, não havia padaria, comprava-se o pão num carrinho de mão que vinha de outro lugar.
Antes de morar em Pirajá ela morava na Ilha, lá de Gameleira veio para a Baixa de Quintas morar de aluguel. Quando casou comprou uma casa própria em Pirajá.
Aqui teve suas filhas e ficou viúva, passou a vender acarajé para sustentar a família.Vende até hoje, de segunda à sexta, das 17h às 22h.

Entrevista a Seu Manuel: conhecido por todos como Seu Marivaldo.

Chegou aqui em 1971 vindo de Praia Grande para trabalhar na fábrica de Irecê que produzia óleo vegetal. Depois trabalhou por vinte anos na fábrica de azulejos, como chefe do setor de produção. Quando chegou aqui no inicio da rua só tinham duas casas.
"Pirajá não tinha nada, era um cruzeiro no final de linha e quando passou a ter ônibus, os ônibus sempre derrubavam o cruzeiro, até que foi tirado de vez", acrescenta Seu Manuel.


Oxumarê
Entrevista a Dona Detinha (Elizabete Alves Costa - 77  anos):  moradora de Pirajá há 52 anos.

Veio do Bairro de Brotas para morar em Pirajá, chegou  aos 25 anos, depois de ter feito o santo no Candomblé de Angelina, pois encontrava-se doente e foi se cuidar no terreiro. A casa de Angelina ficava em Brotas, na baixa da Torre. Naquele tempo quando se fazia o santo só tirava o Quelê depois de seis meses e a saia depois de um ano. Seu santo é Oxumarê. Dona Detinha nunca quis abrir um terreiro, mas sempre trabalhou com Orixás.
Da sua chegada em Pirajá, lembra-se que não havia transporte, pegava o ônibus em Valéria. Depois "Seu Querino" botou um carro para fazer transporte até a cidade, a viagem era longa, quase um dia para ir e voltar, o carro tinha poucos lugares.
"Aqui na rua só tinha a fonte de Seu Antônio, se comprava água de beber, no burro. Encomendava e pagava pelo barril. Tinha muitas boiadas que passavam por aqui para ir para o matadouro e quando soltava um boi era um corre corre danado", relata Dona Detinha.
Casou-se no dia dois de junho de 1979 e não teve filhos biológicos.

Entrevista a Marilda (65 anos): neta biológica de Mãe Samba de Amongo.

Marilda hoje é a responsável pelo Terreiro Manso Banto Kenkeu do Ykinansaba em Pirajá. Terreiro de Angola.
Ela nos conta que Mãe Samba como era conhecida, era filha de santo do finado Bernadino Manuel da Paixão, fundador do Bate Folha de Mata Escura. Mãe Samba morava na Jaqueira do Carneiro, fez o santo em 1925, raspou Dandalunda. Em 1966 abriu o terreiro em Pirajá, muito famoso naquela época.
Um das lembranças de Marilda é quando ela era pequena, e sua vó botava uma gamela na cabeça e saía vendendo acarajé.
Hoje a "roça" só tem por volta de 30 a 40 filhos de santo. Ela diz referindo-se a vó: "a pessoa é muito famosa viva, morta só se for político". Mãe Samba de Amongo faleceu em 1979 aos 54 anos. A história perdeu uma grande mulher.

Localização

O Bairro de Pirajá encontra-se localizado nas margens da BR-324 e do subúrbio ferroviário de Salvador. Seu acesso pode ser feito pela BR-324, Estrada do DERBA, Estrada Velha de Campinas e Ligação Pirajá-Suburbana.


Pirajá tem pouquíssimas ligações, vias e transporte para a Região do Subúrbio Ferroviário, bairros vizinhos separados pela Represa do Cobre como Rio Sena, Alto da Terezinha e Ilha Amarela.

Parque São Bartolomeu

Parque S. Bartolomeu
A Floresta do Urubu, hoje conhecida como Parque São Bartolomeu também abrigou escravos fugitivos que aqui encontraram proteção e refúgio. Organizando-se por volta de 1826 no chamado Quilombo do Urubu.


Salvador ficava bem distante, ocupando em sua maior parte a faixa litorânea. Os quilombolas do Urubu possuíam uma extensa área onde percorriam para caçar e coletar as frutas da região. Essa área ia até a região do Parque de São Bartolomeu com seus rios, cascatas e tinham acesso também à região de Cajazeiras, áreas que nessa época formavam a Mata Atlântica.



No local havia um candomblé de nagô, cujo “babalorixá” (pai-de-santo) era um mulato chamado Antônio. Era o local de culto do gentio.


No Urubu havia uma mulher de prenome Zeferina, uma das lideranças do quilombo. Zeferina era uma mulher guerreira e respeitada por todos.


Quilombo
Infelizmente, do Quilombo do Urubu resta apenas a bela lagoa, a lagoa do Urubu (no local hoje conhecido como Brasilgás) que vem sendo gradativamente assoreada e aterrada, numa tentativa criminosa de apagar definitivamente mais uma história do povo negro.


(Créditos: Jose Bahiana) 

quarta-feira, 21 de março de 2012

Pirajá: história, memória, resistência.

Praça General Labatut - Pirajá

Significado do nome Pirajá: Na língua Tupi "pira-ya" ou viveiros de peixes. No nordeste "pára+já" significa aguaceiro repentino e curto, acompanhado de ventania, frequente na costa da Bahia e nos outros estados próximos.
Os primeiros habitantes dessa redondeza foram os índios Tupinambás.

O bairro de Pirajá é um dos mais antigos de Salvador. Surgiu a partir dos Engenhos de açúcar e das primeiras missões jesuíticas que aportaram na Bahia no período da Colonização.

Como constata o professor Luís Henrique Dias Tavares: "Na ribeira de Pirajá os jesuítas estabeleceram nos primeiros anos de colonização a aldeia de São João de Plataforma, dando inicio as primeiras experiências de catequeses. Ali surgiram os primeiros engenhos de açúcar, como o de El Rei ou Pirajá. No Engenho de S. João pertencente a companhia de Jesus, foi onde o Padre Antônio Vieira pregou seu primeiro sermão em 1633."

A Batalha de Pirajá é considerada um dos principais choques bélicos da guerra pela Independência da Bahia, sendo travada na área de Cabrito-Campinas-Pirajá. A principal batalha pela independência, em que os baianos venceram as forças do colonialismo português, em 1823, foi no Panteão (Pantheon) de Pirajá, situado no Largo de Pirajá. No dia 1º de julho, o local recebe o Fogo Simbólico vindo do Recôncavo, representando as vilas revolucionárias instaladas na região. Na principal praça do Bairro, General Labatut, está com seus restos mortais no panteão do local, em homenagem a Pierre Labatut o General Francês combatente da Batalha de Pirajá.